Trem da alegria desregulado

Hell Ravani
3 min readFeb 26, 2019

Existe algo capaz de dividir a infância de qualquer brasileiro: o polêmico trenzinho da alegria. Uma espécie de busão escolar que tomou LSD demais e sobrou-lhe como única missão divertir criancinhas com uma falta de noção tão refinada, que é impossível não se emocionar.

Até um belo dia a internet descobrir e transformar numa escola artística.

imagens fortes, CUIDADO

E logo se vê que a profissão de Carreteiro da alegria pode ser bem perigosa.

Ou pode te deixar poderoso até subir a cabeça e você derrubar duas crianças da bike, sem sequer deixar de ser aplaudido.

Desde que a web zoeira caiu nas graças da Carreta Furacão, o Brasil precisou começar a enfrentar essa complexa expressão artística, amada por uns, desconhecida por tantos outros. Em Fortaleza, donde me criei, tem trem da alegria até hoje, então, pra mim o absurdo sempre foi normal, inclusive demorei a perceber que nem toda cidade tinha a Avenida Beira Mar onde aquele veículo brilhoso e barulhento corria cheia de dançarinos jorrando adrenalina anal. Recentemente, o trem da minha cidade entrou no mapa dos memes durante uma ação política, que não passa de mais um capítulo na Guerra pela regulamentação do furacão el Carreta.

Agora, como esse quase patrimônio imaterial da humanidade é ao mesmo tempo ILEGAL? Este é o fenômeno BRASIL.
É claro que no país da mamadeira de piroca, a diversão infantil mais parece uma diarréia dos anos 80 numa rave de Dollynhos transtornados.
Quem disse que aqui não neva? únicos como flocos de neve, cada um desses personagens anônimos escondidos atrás de famosos — e nostálgicos amigos — talvez revele algo complicado sobre nosso típico jeitinho brasileiro: a alegria está desregulada, apesar de conseguir a façanha de rebolar na cara do perigo, a diversão tupiniquim está sofrendo acidentes constantes quando sobe no muro alto demais.

Tem também o fator preconceito, porque nas capitais do eixo pop Rio-SP não existe a cultura do trenzinho, ficando esquecido na glória irônica dos memes. Assim como a música romântica foi taxada de brega e não de MPB, os trenzeiros são ameaçados enquanto os trios elétricos invadem o Carnaval. Ninguém duvida o risco que é a profissão de rebolador furacão, por isso, simbora discutir, dar um jeito de regulamentar, transformar num esporte olímpico ou seilá se tô falando bosta! Parece tão fácil o Governo querer acabar com uma tradição genuinamente brasileira sem nem tentar abraçá-la, tanto que faz a gente pensar se a intenção é real ou se tão querendo tapar preconceito e jogar uma água sanitária na produção cultural.

Em tempos difíceis, até rebolar vira um ato político e talvez agora a agenda seja ~LIMPAR~ a paisagem urbana da energia alegre do trenzinho…o problema é que essa brincadeira vai custar caro. Com uma economia lascada, desemprego altíssimo e um papo anti-trabalhista, comé que os cara ainda inventam de barrar uma atividade que tá no mínimo gerando renda — ao contrário de alguns filhos do Presidente.
Meu desejo é que a dança da vida vença nesse breve final ou que o furacão da nossa alegria seja de uma vez por todas regulamentado, esperado e amado. (total já terminei outros textos com esse vídeo, me desculpa, a festa é minha)

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