O politicamente incorreto é mais imortal que Sandy & Jr.

Hell Ravani
5 min readApr 8, 2019

Não é novidade pra ninguém que vivemos num país exibicionista, viciado em criticar o corpo, principalmente das mulheres fora do considerado ~BELEZA NATURAL — urgh. Durante muito tempo, ser qualquer coisa de cheinha te dava um verniz de INCAPAZ, seja na vida amorosa ou no controle das calorias, o que não tem nada a ver com a realidade mas virou verdade através de uma representação desviada da mídia, mostrando mulheres como um acessório que precisava engolir a cenoura alheia.

O mito da gorda que não goza pela boca de Tiririca, nosso deputado federal.
Brasil exportação: Schwarzenegger vira crítico de bunda

Ainda agora nos tempos de BELEZA REAL, onde tem muito mais corpo de verdade ocupando as telas, a mensagem passada é que você só é linda nas propagandas de sabonete. Mesmo na série ´Coisa mais linda´, nenhuma gorda(o) tá no elenco principal, e, logo no primeiro episódio uma das únicas pessoa com cara de normal que aparece é gratuitamente chamada de ~doida.

Danilo Gentili tem sua própria cruzada pessoal, onde hora o alvo é a Deputada Maria do Rosário ou a Deputada Manuela D´ávilla ou uma doadora de leite quando quer variar, mas geralmente ele escolhe uma parlamentar que faz oposição ao seu clã pra ser alvo duma perseguição destrambelhada.

Não consigo nem entender´a lógica dessa piada — talvez sou anta demais, mas porque o argumento pra mina ser ´gorda´ é ela curtir tempero? Vamo assumir que isso é real, a Deputada Sâmia é viciada numa pimenta, isso só significa que ela não curte comida sem graça, não? Desde quando é crime você enfiar um molhão gostoso da cor do pecado naquele sanduíche sem futuro? Se qualquer coisa, isso seria uma qualidade porque Sâmia sabe adicionar um sabor apaixonado aos seus projetos. Sem falar que ser gordo não é piada, nem nada, é no máximo uma realidade. Afinal, também seria tão ruim assim tacar um pouco de vida no Paulo Guedes? Depois do Tchutchucagate, o cara parece preso no Dia da Marmota ao contrário, merecendo sim uma surra respeitosa de pimenta no seu toba economicamente correto e quem sabe uma boa dose de NOÇÃO na alma.

E o que dizer de Danilo, que era pra ser um comediante mas parece um papagaio babaca dos anos 50…Não existe nenhuma gota de criatividade presente nesse pseudo ataque bosta dirigido a mais uma Deputada, no máximo tem o óbvio: Sâmia é uma mulher poderosa e fora do padrão, assim como muitas outras que perceberam a mudança dos ventos e agora lutam por espaço enquanto ameaçam líderes ultrapassados que não são capazes nem de cumprir a função biológica básica: excretar para FORA, não para dentro.

Em tempos onde é citado BONDE DO TIGRÃO como referência na Câmara, porque o dito comediante vai atrás de socar um esterótipo em qualquer oportunidade ao invés de se debruçar sobre esta maravilha humana?

Ser babaca dá IBOPE, tem público fácil pra isso, seja pra falar bem ou mal. Bolsola, Osholavo do Caralho e Tiririca são provas vivas de que um palhaço com jeito sincero é tudo o que o povo quer na era da distopia política.

De repente, o politicamente correto virou A CENSURA DO MILÊNIO, além de um argumento ridículo pra quem gosta de comédia ofensiva achar que a sinceridade inapropriada tá em extinção junto com os rinocerontes, tudo bem, é chato quando começam a dizer que nossa banda favorita na verdade é mó mentira, eu sei, eu gostava de Los Hermanos — mais do que sou capaz de admitir, sendo que, assim como Ana Julia, o politicamente incorreto nunca vai morrer, não tem nem como. O bom e velho bullying tem seu lugar naturalmente saudável quando você tem intimidade, não tá ameaçado totalmente, ou pelo menos tá bem menos que o humor fugir da ofensa, um formato tão jovem e já tão sucateado. É bem mais fácil ofender, por isso é mais fácil fazer piada com amigos ou zoar seu primo, pode quase tudo entre quadro paredes — com consentimento — mas isso não deveria ser convertido em piada de palco.

Quando o humor de ofensa sai de casa e vai pra rua, precisa levar em consideração o contexto, precisa ser muito bem testado pensando que temos décadas de esterótipos negativos até na caixinha de cereal.
Querer piadas mais interessantes e menos óbvias é um caminho natural que fez a comédia evoluir em muitos lugares, então não se deve ter medo das ofensas morrerem ou do humor ficar sem graça, isso é basicamente impossível, ainda mais olhando o nível tão bizarro que atingimos.

A comédia popular perdeu tanto a coerência que virou quase uma paranoia perder a piada ruim pro POLITICAMENTE CORRETO— loucura implantada por vários desses comediante que fazem piada de gordo, eles sim, com medo de não pagarem mais as contas se não puderem fazer piada óbvia. Chegamos no ponto onde os fãs reconhecem até como CORAJOSO um comportamento hostil, só por ele continuar insistindo no humor ofensivo sem nenhum contexto como há cinquenta anos atrás. Por ter a falta de habilidade de criar algo interessante e atestar uma pura normalidade, o estilo de comédia de sempre é recompensado, aplaudido, enquanto experimentar tá fora de questão, ou seja, pra quem tenta inverter o jogo fica uma puta sensação eterna dos escrotos serão exaltados.

Minha fé não é no politicamente correto, nem acredito que isso tem a ver com meu jeitinho de mandar tomar no cu tudo que amo e odeio, quero que surjam novos jeitos de ofender, novos olhares, um tempero a mais sim e qual o problema? Torço pra que seja questão de tempo até um Yuri Marçal receber os louros da comédia — aquela folhinha de maconha que significa riqueza, não louros-tipo-pessoas ou se ele quiser ser pago em Louros Josés também acho válido dar tudo que ele merece. Que venha o futuro da comédia (e rápido)!

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